Zé da Velha & Silvério Pontes - Só Pixinguinha


Dupla recria temas de Pixinguinha, com participações de Yamandu Costa, Joel Nascimento e Cristóvão Bastos

Assim como Pixinguinha e Benedicto Lacerda formaram, na década de 40, a maior dupla que o choro já teve, o trompetista Silvério Pontes e o trombonista Zé da Velha dão continuidade ao legado. O novo disco da dupla, Só Pixinguinha, reúne em versões que flertam com o samba, o maxixe e a gafieira – mas sem abandonar a essência do choro – 12 temas de Alfredo da Rocha Vianna Filho, entre clássicos e redescobertas. O lançamento é da Biscoito Fino, no mês em que se comemoram os 109 anos do mestre, nascido em 23 de abril de 1897.

Na abertura do CD, o maxixe Já Te Digo fornece a carta de intenções do disco. Com o balanço irresistível que caracteriza a dupla, Zé da Velha e Silvério Pontes recriam um tema pouco conhecido de Pixinguinha, feito em parceria com seu irmão, China. A gravação original trazia o próprio China no vocal, em letra que provocava o estilo excêntrico do compositor Sinhô, desafeto do grupo de Pixinguinha. A versão instrumental de Zé e Silvério, sob o arranjo de Henrique Cazes, evidencia a linha melódica típica do gênio, melhor percebida sem os versos sarcásticos da primeira gravação.

Para um Pixinguinha pouco conhecido, nada como o clássico dos clássicos da música brasileira, Carinhoso (aqui sem a letra de João de Barro). Um dos temas mais gravados da história de nossa música, ganha versão igualmente histórica, na participação de Yamandu Costa, cujo violão sobrepuja o conceito de virtuosismo no diálogo com o trompete de Silvério e o trombone de Zé da Velha.

A partir daí, Zé e Silvério enfileiram os choros do mestre, sempre acrescidos de uma participação, para fazer jus ao clichê, especial. Em andamento dolente, Diplomata traz o sax tenor de Humberto Araújo, efetivando os contrapontos típicos de Pixinguinha, no instrumento adotado por este ao formar a dupla com Benedicto. O arranjo de Henrique Cazes assume a certa altura características da música caribenha, com destaque ainda para o cavaquinho (com afinação de bandolim) de Alessandro Cardozo e o violão de Carlinhos 7 Cordas.

O cavaquinista Jayme Vignolli assina o arranjo de Chorei, um dos choros mais conhecidos de Pixinguinha, aqui com a participação do clarinete de Paulo Sérgio Santos (há um certo clima dixieland no final da música) e o violão de 7 cordas de Rogério Caetano. Sensível traz o bandolim de Joel Nascimento e o baixo acústico de Luiz Alves, incorporando densidade e mistério ao arranjo de Henrique Cazes, com Silvério no flugelhorn. É também de Vignolli o arranjo da pouco conhecida Cascatinha, um choro ligeiro, onde Silvério reabilita o hoje quase esquecido bombardino, instrumento típico das primeiras formações do gênero.

O piano de Cristóvão Bastos é o destaque de Desprezado, onde o arranjo de Bastos insere elementos camerísticos, ao lado do flugelhorn e do trompete de Silvério, do trombone de Zé da Velha e do violão de Charles da Costa. Ainda Me Recordo, com arranjo de Vignolli, tem participação de Alexandre Maionese na flauta (fazendo a vez de Benedicto Lacerda), com o trombone de Zé da Velha executando os contrapontos. Ingênuo, arranjada por Cazes, inova ao trazer o acordeom de Marcos Nimrichter em diálogo com o trombone de Zé da Velha, reforçado pelo flugelhorn de Silvério, em andamento mais compassado que o original.

Outro tema pouco conhecido é Trombone Atrevido, onde o balanço de Zé da Velha justifica a homenagem do título. O trombone solista é apoiado pelas percussões de Netinho Albuquerque, Beto Cazes, Rodrigo de Jesus e Marcelo Pizzotti, com Silvério no trompete e bombardino, em arranjo de Vignolli. Os Oito Batutas homenageia o grupo formado por Pixinguinha e Donga, que incendiou a Paris dos anos 20. Em mais um arranjo de Vignolli, a faixa tem participação de Humberto Araújo (sax tenor), Rogério Caetano (violão 7) e Alexandre Maionese (flauta e flautim). Sedutor tem arranjo de Henrique Cazes, com as presenças de Cristóvão Bastos (piano), Joel Nascimento (bandolim), Paulo Sérgio Santos (clarinete) e Maionese (flautim), encerrando o álbum em ambientação apoteótica.

Vale lembrar que a alcunha de Zé da Velha foi concebida quando este passou a integrar o grupo da Velha Guarda, liderado por Pixinguinha, na década de 50. Foi aí que o jovem José de Matos Guedes passou a ser conhecido como Zé da Velha Guarda. Para unir diversas guardas de instrumentistas brasileiros, de Zé a Joel, de Yamandu a Rogério, de Cristóvão a Paulo Sérgio, Só Pixinguinha.

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Texto: Julio Moura
Fonte: Biscoito Fino

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